novembro 11, 2006

Crónicas da ascensão à caducidade #1

Homenagem póstuma a um menino que queira ser menino, para servir de argumentação no purgatório da emancipação, quando julgado, pelo amargo e afável desarranjo, da perda da ingenuidade.

Vesti a minha melhor farpela que se usa em ocasiões como esta, há muito guardada no baú com a respectiva bola de naftalina, estou prevenido não vá o bicho estragar o figurino. Tenho aqui ao meu lado Timóteo meu ajudante de campo, é estrábico , olha de revés e já foi acólito, criatura versada em coisas do divino, para se alguma divindade míope e soez de almas alheias se quiser entremeter nesta demanda, o Timóteo sabe uns truques, mas declaro aqui para que conste: ele é muito boa praça. -Bom... assim estamos mais atentos aos flancos (juntos vamos acudir a esta faina hercúlea).
Numa sala de janelas amplas, bem iluminada pelo sol declivoso, bem pigmentado, de uma tarde, reinava a sabedoria do silencio!
- Não! – diz Timóteo.
- Cala-te que isto não são contas do teu rosário. – repreendi-lhe eu
- Ho chefe..., só se não tiver lá ninguém e se for por respeito á tabuleta silencio....
- Então porquê minha avantesma?
- É se for por respeito à tabuleta, reina o silencio. – sábio este Timóteo, à sua maneira ou disfarçou bem, este escorropicha-galhetas.
- Isso fica atento mas discreto, põe os óculos escuros para o adversário não saber para onde estás a por a vista.
Quando ele, o petiz punha a imaginação a trabucar, funcionava como “o princípio da incerteza ”, em sintonia com os universos da dispersão, alegria sem duvida , discontempla-se o sossego para atender à exaltação da mocidade, liberdade única e efémera.
- Chefe olhe o “sms”.
- Ok!
[ cinco minutos depois]
Onde é que eu ia? Ah.
Contra todas as expectativas, durante algum tempo, este catraio , conseguiu resistir aos apelos.
E debalde sucumbiu ...
Mas ainda se engana, acredita, ama, sofre sem saber porquê e também não se importa muito com isso, anseia por um mundo melhor, sem que este desejo seja parcela ou premissa de uma equação económica e almeja que todos os filhos da “puta” vão pró inferno!
- Digam lá que isto não é lindo, até ao Timóteo vieram as lagrimas aos olhos, cada uma por seu lado como é evidente.
Foi inevitável, chegou ao dia em que o menino deixou a meninice. Ele agora é um rapaz. O logos chegou!
Mas como defesa digo, ele é receoso de se tornar mediano e arisco, por ver a crueldade do mundo, e diga-se de passagem não tem ódios de estimação .... bom talvez projectos mas nada de grave .
Dixi!
- Chefe eu assim não aguento, que dramático!
- Então.... olha para outro lado! – disse-lhe eu,...-como fosse possível.
- Para já ficamos por aqui Timóteo tenho uma pizza à espera depois; vê-se !...


Adeus!

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